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quarta-feira, 6 de julho de 2011

A Educação Pública no Início do Século XX em Bento Gonçalves

Bento Gonçalves, criada em 1870, na época conhecida como Colônia Dona Isabel, teve um desenvolvimento bastante considerável durante sua história. Seu nome foi dado em homenagem ao General Bento Gonçalves da Silva, chefe da Revolução Farroupilha, ocorrida no Rio Grande do Sul em 1835.
Hoje com uma área de 381 km e quase cem mil habitantes a cidade é um centro turístico reconhecido mundialmente.
Situada na Serra Gaúcha, nordeste rio-grandense, lugar escolhido pelos italianos devido ao clima mais propício para a cultura da videira e mais semelhante ao da Europa, ali os italianos se estabeleceram e, até hoje sua cultura predomina na região.
O desenvolvimento dessa parte da região em muito se relaciona com a cultura trazida pelos imigrantes provenientes em sua maioria da região norte da Itália, onde as políticas públicas desde muito se preocupavam com o processo de escolarização, porém no Brasil durante o período imperial, na província de São Pedro, não houve maiores incentivos à instrução, a educação institucionalizada continuou sendo privilégio de poucos. Com a proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, no Rio grande do Sul assume a administração um grupo de republicanos fortemente vinculados ao positivismo o que gerou um novo olhar para as questões educacionais, foi a partir da República Velha que a expansão do ensino público primário difundiu-se relativamente.
Em Bento Gonçalves os primeiros registros do processo de escolarização do município, quanto à instrução pública na área urbana datam, 1910, com a direção dos senhores Antonio Casagrande, Amaya de Gusmão, Dr. Battochio e do Pe. Saverio Acierno, foi fundada na vila, uma escola prática de comércio, dividida em três cursos, e que em seguida teve grande aceitação. A organização do ensino público municipal ocorreu apenas a partir de 1912 através de determinação da Secretária do Estado dos Negócios do Interior e Exterior de Porto Alegre. Os dados informados eram alarmantes: em 1910, Bento Gonçalves, tinha um total de 18744 habitantes e destes, 11086 eram analfabetos, ou seja, 59% da população. Em 1914, em questionário remetido à Secretária de Estado a intendência de Bento Gonçalves informava que cerca de 3500 crianças em idade escolar eram analfabetas e estavam privadas do acesso à escola. Os motivos foram diversos- evasão, a repetência, a falta de incentivos pelas condições matérias da família e mesmo a pouca importância dada por alguns ao estudo dos filhos.
Muitas crianças, antigamente, iam até a escola de pé descalços, enfrentando o frio, a geada, a chuva e percorrendo a pé longas distâncias. Não havia comodidades. Pelo contrário, algumas delas precisavam cumprir tarefas domésticas antes de irem para a escola e muitos foram os que deixaram de estudar para auxiliar os pais na “lida da roça”. Os que conseguiam frequentavam alguns anos de escola seguiam para a mesma carregando numa pequena bolsa de tecido e os parcos matérias de estudo.
Naquela época mandar os filhos à escola era um peso para a economia da família. Em primeiro lugar, era necessário comprar o material, o vestuário que representava elevada despesa, visto as poucas fontes de renda. Muitos pagavam os estudos com produtos da lavoura: arroz, batata, feijão...a perda da mão –de-obra era outra razão que impedia os pais de enviarem os filhos à escola. Para muitos pesquisadores o imigrante italiano pouco teria se importado com a instrução de seus filhos e que, eles próprios em sua maioria, seriam analfabetos.
As poucas escolas criadas nas colônias atendiam apenas às crianças que viviam nas proximidades. As demais cresciam em plena “ignorância da arte da escrita”. Por volta de 1910 foi inaugurada na Vila um Colégio Elementar, frequentado presentemente por duzentos e oitenta e um alunos de ambos os sexos, a partir de então o colégio Elementar passou a funcionar junto ao prédio da Prefeitura dirigido pelo professor Pedro Vicente da Rosa. As imagens a seguir mostram a atual sede da Prefeitura Municipal, onde o colégio Elementar funcionava.








No curso elementar a grade disciplinar compreendia o português, a geografia e a história pátria, noções de geografia e história geral, aritmética e geometria práticas, contabilidade, noções de escrituração mercantil e agricultura, lições de coisas, trabalhos manuais, desenho a mão-livre, elementos da música vocal, ginástica sueca e evolução militar nas escolas do sexo masculino. As aulas eram ministradas a menores do sexo masculino de 7 a 14 anos e do sexo feminino de 7 a 16 anos, e abrangeria as matérias do programa.
O funcionamento das escolas foi determinado que as mesmas seriam mistas, separando-se porém, as crianças por sexos. A duração do ensino era de 4 horas e meia, dividindo-se esse tempo em três seções de 1 hora e 20 minutos, separados por dois recreios de 15 minutos cada um. Cabia aos professores aproveitarem o recreio para lições de civilidade, fiscalizando a conduta de cada um dos alunos. Os alunos que não tinham boa conduta estavam sujeitos às correções e penas disciplinares como: Advertência particular, advertência perante a classe e exclusão. “Na escola o professor usava de sua autoridade e exigia disciplina impecável. Era autorizado pelos pais para aplicar castigos. Entre os castigos mais em voga, (...), estavam os seguintes: ficar de pé durante a aula, ficar sem recreio, ajoelhar sobre grãos de milho ou sobre pedrinhas, pancadas nas mãos com varas de marmelo ou com a régua, permanecer mais tempo na escola após o horário escolar... este último castigo era o mais temido, por que os pais percebendo o atraso em voltar da escola, suspeitavam do castigo.” (COSTA, R.). Abaixo uma foto da recreação estudantil no então Colégio Estadual General Bento Gonçalves da Silva, situado na rua Benjamin Constant.





Foi umas das primeiras iniciativas de instrução publica na Vila, mas com o crescimento do número de alunos matriculados e das próprias necessidades para um ambiente escolar, levaram a comunidade a reunir-se para solicitar a construção de um prédio específico para abrigar o Colégio Elementar uma vez que, funcionava junto a parte térrea do edifício municipal, achando-se tal situação que nem sequer possa bater para o recreio e formalizar, pois muitos especialmente os contabilistas sofriam com a natureza das crianças, vindo desta forma perturbar os trabalhos, durante os recreios, entrada e saída das aulas.
As principais festividades comemorativas eram as apresentações de encerramento do ano letivo onde os alunos decoravam poemas famosos e eram recitados em altos brandos, bem como as comemorações cívicas onde os alunos que se destacavam faziam apresentações para a comunidade, conforme registrado em algumas fotos abaixo.











No enceramento do ano letivo era realizada ainda uma missa de ação de graças mandada pelos alunos que concluíam o curso primário, com a presença do corpo docente e discente, bem como figuras públicas, nessa ocasião eram lidas as atas dos exames finais de cada classe, proclamando-se os graus obtidos pelos alunos. Também tinha exposição de trabalhos manuais realizados pelos alunos durante o ano.






A inauguração do novo prédio do Colégio Elementar, porém, deu-se apenas em 24 de agosto de 1936 na rua Benjamin Constant num terreno cedido pela Prefeitura Municipal. Foi em 31 de agosto de 1936 que o Colégio Elementar recebeu uma nova denominação: Colégio Elementar Bento Gonçalves.
Para o município de Bento Gonçalves a conquista de um Colégio Elementar foi um avanço para a educação, mesmo que não tenha sido suficiente para atender a demanda escolar existente, viabilizou melhorias na própria qualidade educacional.
De acordo com o Parecer nº 245, de maio de 1974, foi autorizado o funcionamento das 5ª, 6ª, 7ª e 8ª séries do 1º Grau, que já estavam funcionando no prédio da Escola, mas pertencente ao Colégio Estadual Mestre Santa Bárbara. Em 1984, a Escola passou a atender também crianças menores de 7 anos, com autorização para o funcionamento da Pré-Escola, conforme Portaria nº 49716, de agosto de 1984.





No ano de 2000, sofre nova alteração de denominação para “Escola Estadual de Ensino Fundamental General Bento Gonçalves da Silva”.
Vanguardeiro da instrução, neste município, foi o primeiro estabelecimento de educação organizado que surgiu como pioneiro da expansão do ensino.
Por seus bancos passaram as elites, as figuras exponenciais que hoje integram a nossa sociedade.

Para entendermos melhor sobre a infraestrutura dessa instituição segue uma ficha da referida escola obtida dos arquivos escolares do ano de 1959.

Ficha da Escola obtida com informações pressadas em 1959:

NOME: Grupo Escolar General Bento Gonçalves da Silva.
LOCALIZAÇÃO: Bento Gonçalves.
ESPECIE DE PRÉDIOS: Alvenaria.
CAPACIDADE DO PRÉDIO: 300 alunos para cada turno.
NÚMERO DE SALAS ESPECIAIS: 1.
NÚMERO DE SALAS COMUNS: 8.
PROPRIEDADE: Governo.
DATA DA CRIAÇÃO: Não consta nos livros de assentamento, somente a data de instalação, 15 de março de 1910.
CONDIÇÕES EM QUE SE ENCONTRA: Regular.










Em 15 de março de 2010, a Escola Bento completou “100 anos” e no decorrer deste período centenas de professores se dedicaram a este educandário atendendo milhares de alunos. Surgindo como pioneira da expansão do ensino, acompanhou a história de Bento Gonçalves integrando-se ao desenvolvimento e cultura de nosso povo, atendendo uma clientela estudantil oriunda de vários pontos da cidade.

Atualmente a Escola conta com aproximadamente 550 alunos, distribuídos nos seguintes cursos / modalidades:
• Educação Infantil – Jardim de Infância Nível B
• Ensino Fundamental de 9 anos (1º ao 5º ano)
• Ensino Fundamental de 8 anos (5ª a 8ª série)
• EJA – Educação de Jovens e Adultos ( Totalidade 1 a Totalidade 6)
• Educação Especial para Deficientes Auditivos
• Sala de Recursos para Deficientes Visuais
• Sala de Recursos Multifuncional – Tipo 1

A equipe diretiva é constituída pelas seguintes Professoras:
- Teresinha de Fátima Frasson Pinheiro – Diretora
- Marinês Haefliger Tasca – Vice-Diretora (Manhã)
- Aline Gabriel Tedesco – Vice-Diretora (Tarde)
- Silvana Conti Rossato – Vice-Diretora (Noite)

No quadro de recursos humanos a escola contabiliza 39 professores e 08 funcionários atuando na construção do conhecimento e cidadania dos alunos. Para um melhor aperfeiçoamento, a Escola ainda soma o trabalho da Supervisão Escolar e Serviço de Orientação Escolar, bem como a participação do Conselho Escolar e o COM (Círculo de Pais e Mestres).

Por fim conhecendo a história do Colégio Estadual de Ensino Fundamental General Bento Gonçalves desde sua constituição é uma das maneiras para entender como se estruturou o ensino público no município.


“A história é vital para a formação da cidadania porque nos mostra que para compreender o que está acontecendo no presente é preciso entender quais os caminhos percorridos pela sociedade brasileira; senão parece que tudo começou quando tomamos consciência das nossas vidas”. (Fausto, B)